quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Os Caçadores de Dote


Dizem que o tempo da escravidão já passou. Dizem que a monarquia foi substituída pela democracia. Dizem que a mulher já atingiu igualdades trabalhistas em relação ao sexo oposto. Dizem até que Elvis não morreu. Mas o fato é que deixaram de dizer que o casamento ainda é um jogo de interesses em qualquer que seja a sociedade.

Eis que retrocedemos ha séculos passados e estamos revivendo a era dos caça-dotes; se é que isso um dia já deixou de existir. A diferença é que, no passado os acordos eram mais explícitos, pois um pai entregava sua filha a um homem e, de quebra, lhe doava terras e lhe repassava bens, com o interesse de que sua fortuna fosse bem administrada e que ficasse em poder de famílias pertencentes às mesmas classes sociais. Assim, os riscos de perda de poder e dinheiro seriam reduzidos.


No decorrer da história o casamento, nada mais é do que uma forma de negócio; não de sentimentos, mas, de bens. E quando ocorre o contrário, a aceitação da situação é praticamente impossível.

Ainda hoje, em muitas sociedades, o papel da mulher é subjugado pelos homens de poder que acreditam que o sexo oposto deve ser submisso e repressivo, contudo nos acostumamos a entender estas questões como CULTURAIS, o que torna o problema pomposo perante suas reais consequências. “Olha lá a mulher usando burca!”. “Olha lá o Sultão com suas 12 mulheres!”. “Olha a menina de 10 anos se casando na índia!”... É tudo tão cultural que se torna “normal”.

É importante entender o papel da mulher perante a sociedade ao longo dos tempos, e eis que o gênero feminino ganha notoriedade de forma lenta, tal como certa liberdade para se livrar das correntes do marxismo e do preconceito. E após tantas lutas e tantas conquistas (porém ainda não suficientes) se deixa levar novamente... Lamentável!

E a sociedade brasileira, como se comporta em relação a isto nos dias de hoje?

Estava eu sentada pensando na vida e eis que surge alguém e me diz: ”Sabe seu amigo fulano? Ta namorando uma mulher rica. Se deu bem!”. Aí eu exclamei: “Será que se deu bem mesmo?”.

Vamos analisar:

O rapaz sem estudos, ou com estudo completo, porém com um baixo nível cultural, com poucas experiências, saldo negativo no banco e oriundo de uma família humilde conhece uma garota que é apenas uma estudante, também sem experiências, mas que os pais possuem boa ou excelente condições financeiras e que podem lhe proporcionar um presente e um futuro desejável.

Temos aí duas situações complicadas, pois o rapaz não terá condições de manter o padrão de vida da
garota; sendo assim, certamente é ela quem vai ditar as regras do relacionamento (nada contra este fato). Contudo é ela quem vai dirigir o carro. Ela é quem vai pagar as contas. Ele é quem vai ter que pertencer ao mundo de amigos e ao estilo de vida dela. Caso contrário, ela vai até aceitar um cachorro quente na barraquinha da esquina nas primeiras vezes, depois ela vai cansar (o cachorro quente é apenas um exemplo).

O segundo ponto importante da frase é: “Ela é rica!”. Então eu perguntei se ela era de fato rica, ou se
os pais dela eram ricos. E ainda, se de fato os pais eram ricos mesmo, pois rico é aquele que não conta moedas no final do mês para pagar as contas e tem dinheiro de sobra na conta até pra ajudar instituições de caridade. No meu ponto de vista, rica é a mulher que trabalha e que, por conta própria, conquistou seus ideais e juntou muito dinheiro.

Porque uma garota inexperiente, que tudo o que tem foi doado pelos pais, pode ser chamada de rica? E se os pais dela morrerem e ela não souber administrar os bens? E se eles tiverem um império, porém cheio de dívidas? E se ela tiver meia dúzia de irmãos que terão direito à herança???

Concluí que o caçador de dote que acredita que ganhou na mega-sena de fato entrou em uma furada, porque é um relacionamento propício a dar tudo errado. Uma mulher rica costuma ser o que chamamos no mundo fashion de “mulher cara”. Aquela que gasta horrores no salão de beleza. Que compra as melhores marcas de roupas, sapatos, perfumes e acessórios. Que não anda de carro 1.0. Que passa as férias na Europa... Aí o carinha de condições simples que está com ela vai fazer o que pra acompanha-la? E no meio da família e dos amigos dela, quais assuntos ele conseguirá dar continuidade?

Amor proibido e com dificuldades é lindo nas novelas e nos filmes, mas na vida real é praticamente impossível. Basta fazer um breve estudo comportamental social para entender.

Eu sei que muitos dirão que isto tudo é preconceito e que eles podem ser felizes, mas eu me preocupo seriamente com as consequências deste amor, pois amores assim costumam ter um prazo de validade muito curto. Todavia, as cicatrizes que ficam para os dois geralmente são de grandes aprendizados.

Eu possuo experiências práticas, pois costumo andar no meio de mulheres independentes (eu não
falei ricas), e tenho percebido que as histórias são parecidas e que este tipo de comportamento masculino tem se repetido com muita frequência. Virou moda homens que não lutaram pelos seus ideais, mas que se aproveitam da boa lábia para se aproximar e pegar uma carona no sucesso destas mulheres bem cuidadas, que possuem status, casa e carro próprio e uma vida financeira estável. E não são poucos.

As duas primeiras perguntas que eles têm feito são: “Onde você mora?” (análise do bairro), e “O que você faz?” (análise financeira). O nome nem é mais tão importante. E a depender da resposta... Já era! Caiu na rede é peixe!

Engatou no relacionamento? Aí eles começam com as cobranças e o complexo de inferioridade. Surge o medo dos amigos e das viagens à trabalho, da maquiagem, do perfume, das curtidas nas redes sociais... E em pouco tempo tudo desmorona.

E de tudo isso, o quem tem me chamado mais atenção é a cara de pau destes caçadores de dotes em contar tanta mentira para atrair a “presa” sem nem pensar nestas consequências: “Será que eu dou conta e consigo segurar a barra de ter uma Mulher-Maravilha ao meu lado?”.  É PRA POUCOS!!!
Sendo assim, esta antiga forma de NEGÓCIO, porém com características contemporâneas e reformuladas, as quais quase nem sempre precisam da aprovação dos pais, permanece vulnerável aos limites psicológicos de cada pessoa da relação.

Eu costumo acreditar nos contos de fadas onde as princesas se apaixonam pelo sapo e após um beijo eles vivem felizes para sempre, só não podemos esquecer que o sapo já foi príncipe.


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