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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Resposta a postagem abaixo sobre o filme Última Parada 174 - Para ler no final de semana...

Quando escrevi o assunto postado neste blog, logo a baixo " Para ler no final de semana", enviei para o e-mail de alguns amigos e muitos deles me responderam, com a autorização de um deles, Ronnie, posto sua opinião e um complemento de minhas idéias e experiências sobre o fato.

De Ronnie para Mari

Entendo perfeitamente isso tudo que voce escreveu.
Acho muito confuso e quando vejo filmes assim eu fico com medo sabe.
Nao medo do que pode acontecer comigo, mas medo mesmo, de tudo.
Sei la, da uma agonia louca, porque eu me acho parte disso.
Co-autor.
Eu tava falando sobre isso ontem, enquanto via tbm umas partes aleatorias do filme.
E essa agonia as vezes me deixa tbm muito inerte.
Sem querer justificar ou qualificar essa inercia, esse medo, essa agonia, enfim, isso, eu escrevo isso meio que pra dividir tbm com vc, algo que possa ser uma experiencia ate parecida.
Uma percepção parecida, talvez.
Ontem aconteceu algo e eu fiquei me sentindo mal.
Nao dou dinheiro nunca na rua, nao dou muita atenção a pedintes, porque eles na maioria das vezes nos abordam sujos, drogados etc.
Penso em mil coisas que podem levar essas pessoas a esse tipo de vida, mas por outro lado, quando me vejo em confronto, ainda que nao tao violento, apenas confronto no sentido de "tete a tete" eu ajo na defensiva e com isso nao dou nem atenção.
Digo "não" e ponto, tento agir de forma mais rude pra afastar e nao mostrar medo.
Porque realmente nao é medo que sinto, sinto agonia.
Nervoso, culpa, tristeza e me sinto parte.
Mas voltando, ontem me parou um menino, criança mesmo e eu ja disse: "nao amigo, bom dia!".. e ele insistu e disse: "mas nao quero dinheiro nao!" e eu repetir: "nao tenho ja disse. bom dia!" e ele insistiu e eu insiti novamente" nao, tenho, ja disse!", sem "bom dia" dessa ultima vez. E ele foi embora.
Depois fiquei o dia inteiro me perguntando o que será que ele queria.
Pedir sim dinheiro?
Pedir comida, ajuda, pedir atenção?
Nao sei, passou.
Mas atenção, sinceramente é algo que pode fazer diferença, de fato, na vida de pessoas abandonadas.
E o preconceito nao nos permite.
E sem esse preconceito, talvez conseguissimos, mesmo que a longo prazo, mudar ate a qualidade danossa vida, em particular.

Enfim..
Bonito, verei os videos depois.

De Mari para Ronnie

Pois é Ronnie...

Lembra do dia que escrevi no Facebook sobre o "passeio" de ônibus que dei em São Cristovão e você me respondeu??? É praticamente isso, não sabemos como agir perante essa situação. Eu sinto medo, sinto pena, sinto um monte de coisas...
Nunca dou esmola, mas sempre faço questão de comprar um doce na mão deles, pode ser que seja errado eu fazer isso, mas eu compro na intenção de ajudar. Não precisa nem ser menino de rua. Às vezes sobe no ônibus uns caras tão bem vestidos para vender doces... Tem uns que se expressam melhor que muito diplomado por aí. Aí eu fico pensando... "Se eu tivesse uma empresa contrataria este cara." Já pensei por muitas vezes em, quando eu abrir minha empresa, procurar estes bons vendedores ambulantes para trabalharem comigo na parte de vendas. Eles são ótimos!
Mas voltando a falar dos meninos de rua, eu analiso cada um deles que passa por mim.
Todos os dias de manhã, quando saio para o trabalho, eu vejo vários catadores e um monte de mendigos catando e comendo lixo... Todos os dias mesmo. E eu sempre venho para o trabalho pensando nisso, não consigo parar de olhar para eles, me choca.
Quando eu trabalhava em Jacarepaguá, e pegava ônibus na frente da Rodoviária do Rio, tinha uma menina que todos os dias eu a via; ela sempre estava lá, rodeada de garotos e se comportando como eles. E eu ficava ali, esperando o ônibus (que demorava muito por sinal) e observando ela. Pensava: “E se ela tomasse um banho”, “E se eu levasse ela para morar comigo”... Eu me sentia culpada em ter uma casa com dois quartos e morando sozinha, mas no fundo eu sabia que isso não seria viável. Eu não tinha, E continuo não tendo, nem uma estrutura psicológica para saber lhe dar com uma situação desta, mas todos os dias, assim que eu chegava no ponto da rodoviária, eu varria toda a área em  minha volta com os olhos a sua procura, e a encontrava, lá, jogada, suja, correndo, pedindo esmola... E eu pensava... "Ai Deus, como pode ser assim?” Talvez um dia eu possa ajudar, mas hoje só me cabe um olhar e um sorriso, caso o olhar dela cruze com o meu.
Um dia eu estava em casa e meu interfone tocou, era a voz de uma criança que disse:
- “Tia me dá um biscoito” (eu não gosto de biscoito, e quase não compro);
- Aí eu disse a ele “Não tem biscoito, só tenho pão”;
- “Mas eu não quero pão, eu quero um biscoito pra dividir com a minha irmã”;
Meu namorado estava do meu lado e eu repetia para ele o que o menino falava no interfone, e meu namorado riu, achou o garotinho meio abusado e me perguntou o que eu ia fazer, aí eu falei para o menino “Espera aí que eu vou ver aqui”.
Por sorte, minha mãe tinha vindo passar um final de semana na minha casa e tinha comprado um pacote de biscoito recheado e um de maisena. Aí eu peguei um pedaço de bolo que também estava lá e meu namorado me olhou e perguntou sorrindo, “Vai dar um banquete pra ele?” E eu disse: “Este menino é uma criança que tem as mesmas necessidades de qualquer outra criança de sua idade. Se ele me pediu um biscoito é porque ele está com vontade de comer isso, caso contrário ele teria aceitado o pão ou teria me pedido o dinheiro, sei lá” E continuei “As pessoas estão acostumadas a fazer caridade doando alimentos comuns de cestas básicas, tenho certeza de que ele não come um biscoito há muito tempo, ou ele viu alguém comendo, o que e muito natural”. Desci e ele estava lá, devia ter uns 6 ou 7 anos, meio sujo, descalço e descabelado, mas parecia que tinha “família”. A menina que ele chamava de irmã parecia ter 3 ou 4 anos, e se encontrava nas mesmas condições do irmão. – Tinham, mais ou menos, a idade dos meus sobrinhos – Quando eu entreguei os biscoitos a ele, ele me abriu um sorriso lindo e me disso “obrigado”. Eu não esperava que ele fosse me agradecer. A menina estava meio que se escondendo, parecia estar envergonhada. Perguntei onde ele morava e ele disse “No Rato Molhado” (a favela mais próxima), e eu perguntei se ele tinha mãe, e ele balançou a cabeça positivamente, mas não me olhava mais, comia o biscoito e oferecia a irmã dele, e ela comia e eles dividiam ali, um a um. Ai eu perguntei “Ela te bate” e ele me olhou nos olhos e me respondeu “Não”. Ai eu fiquei aliviada e os deixei ir embora. Saíram correndo, felizes, e eu nem sabia explicar o que eu estava sentindo ali naquele momento. Reatei o ocorrido para meu namorado, que não desceu comigo, e ele disse que eu era inédita. Não me sinto Inédita, eu fiz a diferença só para aqueles dois.
Passei a comprar biscoitos e guardava em casa, não muitos, mas o suficiente para, caso eles voltassem. E eles voltaram mais duas ou três vezes, interfonando e perguntando da mesma forma “Tia, tem biscoito?” e eu desci e entreguei. Meu namorado disse que eu não deveria fazer aquilo sempre para eles não ficarem viciado em ir lá. E eu perguntei a ele qual era o problema que lês fossem lá? Enquanto eu pudesse oferecer biscoito eu ofereceria, no dia que eu não tivesse, eu não daria e explicaria. Simples assim.
Pouco tempo depois a favela pegou fogo e a prefeitura retirou os barracos mais “próximos”, e nunca mais eles apareceram. Toda vez que eu vejo biscoito “dando sopa” lá em casa, eu lembro deles. Espero que estejam bem.
Na semana do Natal fui ao supermercado fazer as compras da ceia, e tinha um grupo de meninos lá, com faixa entre 10 e 12 anos, todos negros, brincando, descalços, sem camisa etc. Era noite e esperava-mos um Tax. Nem um parava, tinha uma fila de pessoas do lado de fora com os carrinhos cheios de compras, achei que era fila de tax, parei atrás e um deles veio até mim e perguntou “Vai querer carro?” E eu perguntei, “Que carro?” aí ele me explicou “Eu trabalho aqui, arrumando a fila das pessoas que vão querer carros para levar as compras em casa, mas são dois carros velhos” e disse as marcas dos carros e o nome dos donos. Aí eu disse a ele que iríamos pegar um Tax, e ele me explicou que nem um taxista pararia para mim, pq eles sabem que são corridas para perto e não gostam de colocar peso no carro. Aí eu resolvi continuar na fila, e perguntei ao menino:
- “Você trabalha aqui, mas você não estuda?”
E ele disse
- “Estou de férias. Chego aqui de manhã assim que o mercado abre e só saio quando fecha. Nem almocei ainda”.
Aí eu perguntei porque ele não ia para casa almoçar e depois ele voltava, ele respondeu:
- “Se eu for pra casa outro toma o meu lugar. O cara tem que dar duro para vencer na vida”.
Aí eu disse a ele:
-“Se você estudar bastante e tiver boas notas na escola, poderá abrir o seu próprio mercado quando você crescer. Já pensou nisso?”.
E ele me abriu um sorrisão como se eu tivesse dito que lhe daria um sorvete. E me disse “não”. Eu disse, “Pois é. Você pode ser o que você quiser, até dono de uma rede de mercado quando crescer. Só precisa estudar”. Ele continuou sorrindo.
O homem do carro chegou, ele ajudou a colocar as sacolas no veículo e me disse “Obrigado”, e eu paguei a ele com uma moeda de um real, que para mim não fez qualquer diferença no meu bolso, mas eu confesso que fiquei feliz em ter visto o sorriso no rosto dele quando entendeu que pode ter uma vida diferente quando crescer.

Beijos

*Seria muito importantante que visse os vídeos também.

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