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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Velha Infância

Será que a Infância Quando estamos a um degrau da casa dos 30, a tão conhecida idade Balzaquiana, começamos a passar por um grande conflito pessoal sem sabermos, exatamente, onde nos encontramos em relação as nossas atitudes, nossas verdades e todo e qualquer tipo de sentimento. E acredito que isso tenha muito mais intensidade para as mulheres do que para os homens. Estive ouvindo a nova música de trabalho da cantora Sandy Lima, “Aquela dos 30”, e percebi que a letra resume, em poucas palavras, tudo aquilo que sentimos quando chega o ‘D’. Faltam apenas 6 meses para que eu chegue lá, e hoje ainda fico receosa de transitar para esta nova fase e, com isso, as minhas cobranças aumentarem ainda mais. A sensação é que a idade dos 30 nos leva a um portal que, ao atravessarmos, nos obriga a maturidade completa. Não podemos mais ter as desculpas da casa dos vinte (eu confesso que morro de saudade do tempo em que minha única obrigação era ‘passar de ano’ e respeitar os mais velhos), porém, ao mesmo tempo, me sinto realizada em ter conquistado tudo aquilo que me propus até chegar a esta determinada idade. Desde que completei 29 anos tenho pensado muito nestas transições, e confesso que hoje a minha maior preocupação é a incerteza do momento certo de ter um filho (se é que existe um momento certo). Também receio não encontrar a pessoa que irá passar os outros trinta anos ao meu lado (se é que vocês me entendem). Hoje em dia tudo está tão fácil e comum... Casar e separar, “produção independente”... É o que chamamos de MODERNIDADE. Esta incerteza, de ter ou não um filho, não é apenas pelo fato de reiniciar meu ciclo de responsabilidades; tem muito mais a ver com a maneira como a nossa sociedade tem tratado o ato de ‘ser criança’. O que eu quero dizer é que, na minha concepção, hoje não existe mais espaço para elas. Isso muito me preocupa! E é este o principal ponto que eu quero abordar. Estamos falando de idade; de maturidade; de filho; de amadurecimento (ou não). Enquanto escutava a música de Sandy, automaticamente me remeti às lembranças de quando eu era uma criança e ouvia Sandy e Júnior. É... Nós crescemos! E parece que tudo cresceu conosco. As crianças de hoje não possuem mais a essência do nosso tempo, e isso é até um fato natural, pois trata-se da evolução humana. O problema é que hoje elas se comportam como adultos, pelo simples fato de viverem em um mundo projetado para adultos. Lembro-me como ontem de quando eu fazia questão de acordar cedo só para assistir o Show da Xuxa na Televisão (inclusive para assistir Sandy e Júnior, no momento musical, cantando ‘Maria Chiquinha’). Além do programa da Xuxa, ainda tínhamos a opção de escolher, entre vários canais, o programa infantil que mais nos agradava. Tinha Mara Maravilha, Angélica, Mariane, Sérgio Malando (com a Porta dos desesperados e a brincadeira do “Simmmmmmmmmmm – Nãoooooooooooooo” onde se trocava uma Calói por uma caixa de fósforos queimados). Castelo Ra-tim-bum era o mais antigo da história de todos os castelos da TV, porém o reino mais encantado era o da ‘Fada Bela’ e do ‘Honorável Kelvin’. “Bate!”. Lembro-me das loucuras da Vovó Mafalda e do colorido do Programa da Eliana. No nosso quintal tínhamos a TV Colosso... Os desenhos animados eram abundantes e bem mais leves do que os de hoje, pois estes traziam mensagens de amor, harmonia, companheirismo, amizade, lealdade, lazer e várias outras mensagens ‘do bem’. É claro que existiam os personagens do mal, para incrementar a história, mas as maldades não chegavam perto dos desenhos animados violentos e sangrentos de hoje. Sinto saudade do Inspetor Bugiganga, O Fantástico Mundo de Bob, Os Usinhos Gummi, Os Smurfs, Muppet-Baby, Nossa Turma, Ursinhos Carinhosos, Cavalo de Fogo, Punk – A Levada da Breca, Popples, Jáspion, Tio Patinhas, e tantos outros que marcaram minha geração. Agradeço as emissoras que ainda exibem, em canal aberto, o Pica-pau, Chaves e Pokémon. Recordo também que as indústrias de brinquedos se apoderavam da publicidade nos horários matinais e nos bombardeava de objetos “MÁGICOS”... Eram tantos que não sabíamos nem qual deles pediríamos de presente de natal para nossos pais. Por outro lado, as brincadeiras de rua (pular elástico, pula corda, passa anel, sete pedrinhas, baleado, mímicas, Boca de forno...) eram muito mais divertidas do que qualquer Atari. Toda menina queria ser Paquita, acho que até muitos meninos... rsrsrs... Era uma overdose de fantasia! Os apresentadores dos programas infantis também entravam na brincadeira e incorporavam seus nomes a vários produtos. Tudo era comercializado... As botas e os figurinos da Xuxa, a tiara de Mara Maravilha, os Bonecos do Fofão (tinham velas dentro deles. Quem lembra?), até a pinta da perna da Angélica... Hoje, até propaganda de chocolate, é coisa de adulto. Será que as crianças de hoje não compram mais ‘Baton’? Ouvíamos músicas que falavam de Balões Mágicos, bruxas, índios, botos... Inclusive as que nos ensinavam o alfabeto. As letras eram educativas e não tinham duplo sentido. Acho que paramos com a chegada do Grupo ‘MULEKADA’. O que restou para as nossas crianças de hoje? Apenas o Diskovery Kids, para quem pode pagar para assisti-lo, é claro! E olha que este não chega perto do que nos éramos fornecido, gratuitamente, entre as décadas de 80 e 90. Como reclamar dessa sociedade atual, formada por robôs computadorizados? Teremos que agir como eles até o fim? É a nossa única oferta atualmente. A infância hoje se resume em Internet; Jogos computadorizados; muros que cercam os “apertamentos” e/ou os condomínios; e roupas cópias dos pais. O mais incrível é que, com todo orgulho, estes pais de hoje, que viveram toda a infância que aqui descrevi, dizem... “Meu filho tem estilo!”. Como pode? Afirmo que os filhos dos pobres, neste caso, ainda estão na vantagem, pois não são tão alienados. O que falta? Falta Fantasia, e mais... Faltam programas infantis na TV aberta brasileira (Carla Peres, sozinha na TV Aratu, não dará conta). Faltam bandas infantis, com letras infantis. Faltam mais desenhos animados abordando temas infantis. Não faltam brinquedos que estimulem a criatividade e atividades em grupo; falta publicidade em canais abertos, não só de brinquedo, mas de todo tipo de produto voltado ao infantil, inclusive guloseimas. Faltam parques e circos como preços acessíveis e não seletivos. Faltam brincadeiras criativas. Faltam personagens e personalidades infantis. Falta o lúdico na moda infantil. Faltam cores... O colorido na vida de todos nós, para que sirvam de inspiração. Falta infância, inocência, na mente das pessoas que possuem o poder de transformar tudo isso. Pra que tanto programa nos canais abertos, o dia inteiro, falando do cotidiano que já conhecemos tão intimamente e intensamente, além de nada nos acrescentar? Chega de falar do que nos faz mal, do que é proibido, do que fere, do que mata... Precisamos sonhar mais e dar oportunidade as crianças de nos inspirarem, pois já somos uma sociedade doente à beira da destruição (pelo menos dos sonhos). Enquanto os que possuem o poder dessa transformação não agirem a favor, eu vou resgatando um pouco dessa infância que ainda mora em mim, e analisando as probabilidades de ter um filho; pois é claro que eu ainda penso em ter um filho, só não tenho certeza de que isso é uma boa ideia Bem vinda aos 30, idade dos conflitos, das grandes decisões e da nostalgia! Sem mais, eu digo: “Supercalifragilisticexpialidocious”.
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