É inacreditável que, em plena segunda década do século XXI, ainda exista preconceito contra o jovem no mercado de trabalho.
Ainda que a tecnologia tenha evoluído; ainda que o número de universidades e formandos anuais tenha superado todas as expectativas do final do século passado; ainda que o empresário mais conhecido e comentado atualmente em todo o mundo tenha apenas 27 anos... Nada disso é suficiente para fazer com que algumas pessoas que ocupam bons cargos, e que têm o “poder” de fazer a diferença de suas empresas, ou da empresa para a qual trabalham, acreditem que a experiência profissional não é medida pela idade e sim pela atualização, habilidade e/ou o tipo de atuação do ser em questão. Seria medo?
Eu tenho 28 anos e comecei minha carreira profissional ainda como menor aprendiz, quando tinha 14 anos apenas. Quase não aproveitei minha adolescência, porque eu achava que se eu me especializasse cedo, minhas chances no mercado seriam bem maiores; e que, dessa forma, conseguiria me realizar profissionalmente até os 30 anos de idade e construir minha vida. Puro engano.
Essa semana estive com Jady Rocha, uma jovem que está começando sua atuação no mercado da moda em Natal-RN, e ela me perguntou: “Mari, valeu a pena todo este investimento de tempo e dinheiro, além de tantas renúncias, para estar neste mercado?”. E por alguns segundos eu parei e pensei... Ninguém nunca me fez esta pergunta antes; mas esta é a pergunta que eu sempre quis responder... E eu respondi claramente: Não!
Nem me preocupei em deixá-la desmotivada, porque, neste mercado, não importa se você é bom no que faz; se tem conhecimento da área, habilidade e etc. O que importa mesmo é se você tem alguém para te indicar ou se tem bastante idade na certidão de nascimento, além de anos na carteira de trabalho assinada assumindo a mesma função. Como ela é muito jovem, se tiver um apadrinhamento, não terá o que temer. Conhecimento poderá adquirir depois. Quem sabe!?
Quando eu fazia curso de menor aprendiz em 1998, em uma das instituições de ensino técnico mais antiga e mais conceituada do país, as pessoas me diziam que eu precisava fazer um curso, na instituição de mesmo nome no Rio de Janeiro. Já no Rio, eu fiz o Técnico e perdi várias oportunidades de trabalho porque ainda não tinha feito faculdade. Depois eu fiz a faculdade e continuei perdendo oportunidades porque ainda não tinha Pós-Graduação. No final, comecei a Pós e percebi que o que me falta não depende mais de esforços intelectuais meu.
Também tem aqueles que dão sorte, mas, infelizmente, a sorte não vem para todos. Prefiro acreditar em Deus.
O mais incrível é pensar que, nesse mundo da moda, tão efêmero, ainda existem pessoas que trabalham no ramo há tantos anos, com tanta “experiência”, e que são tão desatualizadas. Como trabalhar no mercado da moda e não saber definir moda? Como não saber definir tendências e comportamento? Como não saber utilizar dos programas informatizados de desenho e desenvolvimento de produtos? Pior do que isso... Como não saber fazer uso pleno do Word? Meu Deus! Eu já vi cada relatório, feito por pessoas que se dizem experientes, que dá vontade de chorar só em ver a formatação. Dos jovens eu até admito a falta de conhecimento e atualização, mas dos que dizem ter tanta experiência, é difícil!!!
Como dizer a um jovem para não reivindicar algo que não concorda, porque ‘fulano’ tem mais experiência e nunca reclamou? Isso me faz lembrar a historinha do garoto que iria substituir um ancião que trabalhava martelando diariamente as rodas de um trem, quando o garoto lhe perguntou em seu primeiro dia Trabalho: - Porque o senhor precisa bater nas rodas? e o ancião respondeu... -
Meu filho, eu tenho uma vida inteira fazendo isso e nunca soube, e você que chegou agora já quer saber? É bem desta forma que as coisas acontecem!
Acredito na percepção dos jovens, porque é a geração “Y” que está fazendo a diferença no que diz respeito à informação e transformação. A destruição do nosso planeta começou a ser causada pelas gerações anteriores, justamente pelos "mais experientes".
É claro que eu respeito os mais velhos, e têm muitos que eu até admiro. Mas só aqueles que valem à pena. Aqueles que têm uma cabeça jovem. Aqueles que me respeitam. Que me respeitam como Jovem, como profissional, como mulher, como pobre, como nordestina e etc. Como diria o poeta “Só vou gostar de quem gosta de mim”.
Exemplifiquei todo o texto me referindo ao mercado da moda, que parece ser tão democrático, mas não é. Contudo, tal preconceito se estende a todas às áreas de atuação profissional. Eu poderia passar uma vida inteira aqui citando exemplos de amigos, de áreas bem diferentes da minha, que já penaram muito para conquistar seu espaço.
Eu, depois de 14 anos de estudos e atuação no ramo da moda, ainda estou tentando vencer essas barreiras e alcançar meus objetivos. Ainda não cheguei à metade do que pensei que chegaria com a idade que tenho hoje, mas vou continuar perseverando e me impondo, porque eu conheço gente que não tem metade do meu conhecimento e que passaram na minha frente.Tenho certeza que sou capaz e não haverá preconceito nem um que me impeça.
Caso eu desista, será por puro cansaço, desgaste e desgosto, pois pelas coisas que eu ouço dos mais “experientes", ainda terei que lutar muito.
No último sábado estive fazendo parte da equipe de seleção para estilista da empresa de moda feminina Avohai (RN), e fiquei muito feliz em ver tantos jovens talentos 'estourando' em uma cidade que ainda nem possui faculdade de moda, mas que as pessoas buscam suas qualificações de todas as formas possíveis mantendo-se extremamente atualizados.
Foi muito difícil a seleção, pois a vontade que deu foi de contratar todos que estavam lá. Cada um com seu talento, com sua particularidade. E minha felicidade maior foi ver a confiança da empresária, Eveline, com os candidatos à vaga. Sua melhor frase foi: “Quero pessoas jovens porque têm a cabeça aberta e não se prendem a regras”. Perfeito Eveline!
Eu fico realizada quando vejo o talento de Marília Andrade da marca Nova Bossa, que desenvolve um trabalho lindo e muito bem executado. Ela está começando agora, e está começando certo. Do mesmo jeito é o Estilista Wagner Kalieno, que está estourando também no mercado nacional. Um novo talento, que foge do convencional e que já veste grandes celebridades.
Estou desenvolvendo um trabalho de consultoria com eles e percebo que suas estrelas estão apenas começando a brilhar.
Quando estou dando aula em uma turma mesclada, sempre sinto a resistência da maioria dos alunos mais “maduros”, em diversas situações de trabalhos que peço para executar em sala de aula. Sempre colocam dificuldades; enquanto os mais jovens absorvem tudo com mais facilidade e muitas vezes superam minhas expectativas. Será que os mais maduros nunca foram jovens? Talvez na época deles, realmente os jovens fossem mais imaturos mesmo, mas hoje em dia as coisas mudaram bastante.
Estou cansada de chegar para ministrar um curso ou uma palestra e as pessoas olharem para mim e perguntarem: “É você quem vai dar a palestra? É você quem é a professora?... Só porque me acham com "carinha de menininha".
Já aconteceu de um coordenador de um curso de moda, onde 90% de sua turma era formada por pessoas com menos de 35 anos, e ele olhar na minha cara e dizer: “Você que tem menos experiência vai ficar com a turma dos alunos, e fulana que tem mais experiência vai ficar com a turma dos empresários”. Detalhe, ele nunca tinha nos visto antes e tirou suas conclusões só ao olhar pra mim. Nada coerente pra um coordenador de um curso de moda, não é mesmo!? No final meus alunos disseram que o meu curso de 12h valeu por mais de um semestre de faculdade, além de montarem um e-mail de grupo onde escreveram mil elogios sobre minha atuação. Minha satisfação foi plena. Deus é justo!
Espero que todos nós jovens, possamos seguir o mesmo exemplo de Mark Zuckerberg, o idealizador e presidente do Facebook. Sem necessariamente precisarmos ter a mesma conta bancária, mas que tenhamos, pelo menos, uma realização pessoal e profissional, porque não há nada melhor do que trabalhar com o que mais nos dar prazer e sermos respeitados e reconhecidos por isso. O que nos cabe é acreditar que somos capazes e nos impor diante de qualquer situação que vá de encontro aos nossos ideais.
Eu nem peço para que as empresas dêem oportunidade aos jovens, peço que dêem oportunidade para quem realmente for bom profissional, independente da idade.