domingo, 5 de agosto de 2012

Designer de Moda – Uma Profissão Prostituída


Apesar de ter sido publicado, no início do ano, que o projeto de lei 1391/2011 já foi aprovado, no site do Ministério do Trabalho, no campo Profissões Regulamentadas, o Designer ainda não aparece como Profissão; e tanto tempo na demora das definições dos direitos e deveres, referentes a este assunto, tem deixado os verdadeiros profissionais vulneráveis a qualquer tipo de tratamento e visibilidade no mercado.
Dentre muitas outras questões, o 3º Artigo, diante do projeto de lei que foi apresentado, prever que o exercício da Profissão de Designer será assegurado:

I - aos que possuem diploma de graduação plena e graduação tecnológica, emitidos por cursos de design devidamente registrados e reconhecidos pelo Ministério da Educação e Cultura referentes, inclusive, às denominações congêneres (Comunicação Visual, Desenho industrial, Programação Visual, Projeto de Produto, Design Gráfico, Design Industrial, Design de Moda e Design de Produto) existentes no País;
II - aos que comprovarem o exercício da profissão por período superior a 5 (cinco) anos até a data da publicação desta Lei...

Existem inúmeras definições, claras, sobre o que é Designe, e o profissional Designer, contudo muita gente não consegue entender estas definições e deturpam seus conceitos.
Os verdadeiros Designers profissionais ainda sofrem ao perceber a diferença negativa do reconhecimento entre aqueles que realmente são profissionais e dos que se dizem ser; sendo assim, a profissão de designer já está, totalmente, desmoralizada; e quando se trata do Designer de Moda, a situação fica ainda pior, pois hoje em dia, basta ter um “estilo diferente” e dinheiro no bolso para investir, ou um simples blog na internet, que qualquer um se considera, e pode ser considerado, Designer de Moda.

A garotinha escreve no seu blog o “Look do Dia” e é vista como a maior Designer do momento. Vai pra televisão, e tem 2 milhões de visitas m sua página, por dia... 
Bastou fazer um cursinho de extensão e esta pessoa também já se considera Designer. Muitas vezes nem precisa tanto... basta costurar umas pecinhas do guarda-roupa feminino (porque o masculino poucos querem fazer) e postar no Facebook.Pronto! Está lançada mais uma marca e mais um Designer no mercado. Sem contar aqueles que têm alguma aptidão para desenho, e gosto pela moda, mesmo sem saber se é possível ou não costurar aquela roupa desenhada. Estes não possuem conhecimento sobre os processos de desenvolvimento, nem sobre recortes, costuras, pespontos, acabamentos e tipos de matérias que serão empregados naquele produto, e no final são vistos como grandes talentos; todavia o talento sozinho, não basta.


É assim que surge a maioria das empresas de confecção do país, com meia dúzia de informações, uma máquina de costura e dois membros da família. Depois a família cresce (dando origem a uma equipe maior), o espaço físico cresce e os problemas crescem juntos.
Sabe o que acontece no final, com todos estes que investem neste ramo (por ser uma área de tão fácil acesso e pouco investimento) sem ter conhecimento e que não buscam se profissionalizar?  Em menos de 5 anos fecham suas portas. Estes dados estão comprovados nas estatísticas mercadológicas do Brasil.
Isso pode acontecer, inclusive, com quem já tem formação e experiência; basta não se reciclar e não estar antenado com novas tecnologias, gestões e processos... Pois este conquistador mundo da moda é astucioso, ousado e mais efêmero do que qualquer outra coisa. Conhecimento é tudo!
Eu, na posição de profissional formada e atuante no mercado desde 1998, dentro de todo este contexto, ainda assim, vos digo: É muito mais fácil lidar com a ignorância do que com o ego destas pessoas que atuam neste ramo.  E digo mais... Não se iluda com o que você "aprende" na faculdade, porque o dia a dia dentro de uma fábrica não chega nem perto das delícias do pincel macio escorrendo a aquarela sobre o papel de fundo branco. Eu tive "sorte" de ter vivenciado o mundo prático antes da faculdade, e poder focar em tudo o que realmente faria diferença pra mim. Não tive tempo para ilusões.
Outra questão importante é o espírito de estrelismo dentro deste ramo, que destrói qualquer possibilidade das coisas darem certo de maneira equilibrada, harmoniosa e direta. Apenas atrapalha o bom andamento dos processos.
Saber ouvir, e perceber os mínimos detalhes, é o “X” da questão. Humildade é tudo e ainda traz bênçãos!
O Designer de Moda é observador de tempos e costumes, e eu acho tristes as pessoas que precisam se montar, vestir o personagem, para serem identificados pela sociedade como designers. Geralmente estes são estilistas (ou nem isso), e entre uma atuação e outra existe um abismo gigante.
 Para ser um verdadeiro designer de moda, não basta ter “bom gosto” ou “estilo” (porque isso é totalmente relativo), ter aptidão para desenhos manuais (os programas de desenhos computadorizados estão aí no mercado fazendo toda revolução de qualidade, tempo e custo. O desenho manual é lindo, mas não dá produtividade), ter uma máquina reta e uma overloque (a tecnologia está avançando a cada dia para reduzir e facilitar os processos), e/ou ter dinheiro no banco (dinheiro mal investido tem um breve fim).

Contudo, se o cidadão tiver tudo isso e conhecimento de mercado, processos e consumo, será capaz de fazer roupas de papel virarem o maior ápice da moda, e escrever, neste mesmo papel, o sucesso de sua história. É preciso saber construir para depois desconstruir!
Este é o verdadeiro designer de moda... O projetista, aquele que pensa no desenvolvimento, na funcionalidade, no caimento, na construção, no impacto visual, no consumo e nas necessidades do seu consumidor, além do seu descarte.
E por falar em descarte, ressalto aqui a importância da preocupação com a questão da sustentabilidade. O fator ‘ecologicamente correto’ não deve surgir apenas como forma de marketing neste setor industrial, o que, infelizmente, tem acontecido com grande frequência.
Atualmente a moda, assim como qualquer outro ramo que desenvolve produtos, não pode ser construída em cima da Futilidade.  O seguimento da moda trabalha com visão social, sempre, o tempo todo.
Além das formas de descarte dos produtos prontos e dos resíduos de produção, deverá existir também uma grande preocupação com as formas de extrações das matérias-primas que serão utilizadas, além das condições de trabalho que serão oferecidas aos seus funcionários; e este ponto nos leva a uma grande questão existente no mercado de confecção que tem apavorado todos os empresários, ou seja, falta de mão de obra e o mercado chinês.


Portanto, para os fashionistas de plantão, espero que, dessa vez, tenha entendido o real significado da profissão Designer de Moda, da qual tenho muito orgulho de pertencer e que, por outro lado, me entristece ao vê-la tão abandonada e cheia de problemas intermediários.
Esta claro que qualquer pessoa pode se tornar um Designer, porém formação, conhecimento prático e atualização são elementos fundamentais.
 Por fim, deixo duas das maiores dicas:

1ª- No caso de dúvidas, contrate um consultor especializado e com experiências de sucesso em sua trajetória;

2ª- Aceite as dicas do consultor e as ponham em prática.

Para gostar de moda, não precisa saber fazer, basta saber consumir. ;)





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7 comentários:

  1. Adoreiiii essa matéria Mari, tudo que um profissional deve saber e os problemas que muitos sofrem pela falta de profissionalismo e capacitação técnica. *.*

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  2. Muito bom Lu! Vou divulgar para minhas alunas do curso tecnico de moda do Senac! Beijos, Diva

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  3. Imagine vc que vivei muito tempo na região sudeste? Foi exatamente por isso que desisti desça carreira 16 anos atrás quando tudo era muito mais primário e primitivo, ainda mais considerando a região onde nasci e cresci. Mas vamos lá, força na peruca!!!! Bem legal a problemática abordada por vc. Beijos, Midori Nakamura

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  4. Querida Mary, como em todas as profissões haverá sempre os melhores e com certeza este serão os que tiverem conhecimentos necessários para irem adiante! Parabéns pelo texto, voce como sempre preocupada com as questões que envolvem a indústria da moda! Grande beijo! Graça Rodrigues

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  5. Mari,Parabéns! Pela matéria.Para trabalhar nessa area, temos que aprender tudo que estiver ao nosso alcançe. Porque talento e dom não é tudo. E o mais importante é ter HUMILDADE, de aceitar os ensinamentos de quem pode agregar valores a profissão. E não se deixar levar pelo "ego",que as vezes nos cega,impedindo de ver as grandes oportunidades que nos rodeiam.Mais uma vez parabéns!...abraço.

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  6. É isso aí garota! A realidade não é brincadeira não, é botar a boca no trombone, as pessoas que não entendem não valorizam nossa área, passamos por fúteis, em certa ocasião me perguntaram: mas o que é mesmo que vcs fazem? Como explicar todo o trabalho que se tem para desenvolver um bom trabalho, sério e com compromisso?! Um abração Mary!Maria Gladis k. Prochnow

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